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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pequena coletânea de poemas - Camões

Alunos:
Por falta de tempo na última aula, não conseguimos discutir a fundo as características da lírica camoniana. Estou deixando aqui uma coletaneazinha de poemas que eu organizei e que considero de leitura importante. Peço que vocês leiam e gastem um tempinho pensando na interpretação desses poemas. É um exercício novo para muitos de vocês que ainda não têm o costume de ler poesia, mas garanto que com um pouco de paciência as idéias vão tomando forma diante dos olhos. Peço atenção especial de vocês na maneira como Camões se utiliza de antíteses e paradoxos, e como isso poede se relacionar ao período histórico no qual ele está inserido.
Último recadinho: na aula que vem, não esqueçam de trazer os livros. Vamos usá-los em todas as aulas!

Um abraço!
PS: QUEM PUDER IMPRIMIR, LEVE A CÓPIA DESSE POEMAS PARA A AULA, POIS VOU USÁ-LOS COMO EXEMPLO.


109

Eu cantei já, e agora vou chorando
o tempo que cantei tão confiado;
parece que no canto já passado
se estavam minhas lágrima criando.

Cantei; mas se alguém pergunta: Quando?
não sei; que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado
que o passado, por ledo, estou julgando.

Fizeram-me cantar, manhosamente,
contentamentos não, mas confianças;
cantava, mas já era ao som dos ferros.

De quem me queixarei, que tudo mente?
Mas eu que culpa ponho às esperanças
onde a Fortuna injusta é mais que os erros?


ESPARSA
                 do autor ao desconcerto do mundo

Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mal, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
anda o mundo concertado.


4

Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.

Estando em terra chego ao Céu voando,
num'hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar uma um'hora.

Se me pergunta alguém porque assi ando,
respondo que só porque vos vi, minha Senhora.

20

Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma tranformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,

está no pensamento como idéia;
e o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.

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